Após grande resistência em relação ao processo de limpeza de parcela da faixa de 700 MHz para possibilitar seu uso pela operadoras de banda larga móvel, o setor de radiodifusão parece estar decidido a buscar uma solução técnica, concensuada com as teles para mitigar qualquer interferência entre as transmissões. De acordo com o consultor da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), Paulo Ricardo Balduíno, radiodifusores e operadoras de serviços de telecomunicações se reuniram na semana passada para debater problemas técnicos e definir soluções. Para teles, consenso é a melhor forma de evitar incertezas no custo, algo que pode definir o sucesso ou fracasso de um leilão como o que se propõe no Brasil.
“Surgiu o interesse de sentarmos juntos e resolver os problemas técnicos e os especialistas iniciaram um debate de alto nível de forma conjunta, sem qualquer sentimento de diferença entre os representantes de cada setor”, afirmou Balduíno, que participou nesta terça-feira (3) do Terceiro Congresso de Espectro da América Latina, em São Paulo.
O setor de radiodifusão e o de telecomunicações, assim, devem começar a debater as possíveis interferências entre os serviços de TV digital e a banda larga móvel 4G, quando do desligamento da TV analógica para desocupação da faixa de 700 Mhz. “Eles estão trabalhando com o CPqD e nós com o Mackenzie, duas entidades idôneas, para estudar as interferências. É extremamente positivo. Não queremos acelerar o processo, mas chegar a um acordo, com segurança, para resolver a questão da interferência, que é crítico para ambos os lados”, frisou o engenheiro e consultor da Abert.
A associação defende, a partir dos estudos inicias de interferência entre os serviços, que seja garantida a implantação de filtros nas estações radiobase, filtros nos receptores de TV e filtros também no down link da radiodifusão. Ainda está em avaliação pela entidade a necessidade de filtros para o uplink. Até o final de outubro, a Abert pretende ter os resultados finais do estudo realizado pela Mackenzie.
Para o setor de telecomunicações, a busca por consensos para evitar problemas técnicos no switch off é vista com bons olhos porque evita dois cenários: incertezas sobre quanto precisará ser investido para a realocação do espectro e a falta de transparência dos modelos propostos, conforme explicou José Juan Haro Seijas, diretor de regulação e atacado para a América Latina da Telefónica.
“O ponto básico para a indústria é a qualidade da definição de custo, antes que se dê o processo do leilão. Se quiseremos antecipar o leilão sem entender o custo, podemos aumentar as incertezas e isso seria ruim. O central não são os problemas técnicos, mas entender as implicacoes de custo deles. Se as dúvidas forem altas, o processo de leilao vai falhar”, sentenciou Seijas, durante o evento promovido pela PolicyTracker.
Para o diretor da Telefónica, o setor precisa ter essas definições, as implicações de custo dos problemas técnicos, o quanto antes, para que o setor possa se programar, mas defendeu a continuidade do diálogo nos próximos meses. O governo brasileiro fala em realizar o leilão da banda de 700 MHz em abril de 2014.
A pesquisa da GSMA
Logo após a Abert anunciar o bom andamento do diálogo entre os setores de radiodifusão e telecomunicações, causou mal estar a apresentação de uma pesquisa realizada pela ATDI de análise dos problemas técnicos (ou a falta deles) para a implantação da banda larga móvel LTE em 700 Mhz nas cidades de São Paulo e Campinas. O estudo foi feito à pedido da GSMA, entidade global que reúne operadoras e empresas correlatas.
A pesquisa, que deve ser concluída apenas em outubro, aponta que na cidade de São Paulo, os problemas de interferências ocorreriam em apenas 10% da área geográfica e, ainda assim, apenas nos canais apenas acima superiores ao 50. “Acho que essa é uma visão muito simplista. Você está falando de um estudo teórico, sem considerar a realidade brasileira, que é muito distinta. Entendemos que há soluções para os problemas técnicos, mas o quadro real é muito mais complicado do que o apresentado por vocês. Além dos estudos teóricos, é preciso testes de laboratório e, quando possível, teste em campo”, defendeu Balduíno, da Abert.
A representante da GSMA no Brasil, Luciana Camargos , gerente senior de políticas, defendeu a iniciativa da associação e afirmou que o objetivo da entidade é “trazer mais elementos para as análises e não ir contra o que vem sendo feito. Após a conclusão do estudo, faremos uma apresentação em Brasília, em outubro, em que poderemos debater mais a fundo”.
Prazos
Tanto a Abert quanto a Telefónica concordam que é preciso correr contra o tempo para ter as definições sobre como serão gerenciados os problemas técnicos da convivência entre os serviços na faixa de 70 Mhz. Ao que parece, a tele e a entidade concordam que não há motivos para pressa, uma vez que os riscos poderiam diminuir o interesse no leilão. A preocupação está em o governo impor um cronograma político aos stakeholders.
“Temos colocado isso para a Anatel, que há um cronograma politico incompatível com o cronograma físico para se resolver a interferência e fazer o switch off. Já fizemos essa colocação: esse descasamento é arriscado e achamos que não há razão nenhuma para essa pressa. Há riscos graves que podem afetar tanto a radiodifisao quanto operadoras e o cidadão brasileiro”, afirmou Balduíno. Uma das preocupações do consultor é de que a Anatel opte por concluir o regulamento do edital antes mesmo da conclusão do processo de definição de regras de mitigação de interferência.
Fonte: Telesíntese