A Abratel, a convite da Câmara dos Deputados, vai falar sobre o switch off (desligamento da TV analógica) no próximo dia 22 de outubro, em uma audiência pública. Preparamos uma entrevista especial com o consultor técnico da Abratel, o engenheiro de comunicações André Felipe Trindade, para que você, radiodifusor, possa entender melhor o tema.
Confira!
A Abratel foi convidada pela Câmara dos Deputados para falar a respeito do cronograma do switch off. Qual o posicionamento da associação a respeito da antecipação do chamado “apagão” analógico?
Trindade – A ABRATEL acompanha com bastante preocupação a antecipação do desligamento do sinal analógico e o cenário complexo de interferências do 4G na recepção do sinal de TV digital. Neste caso, a interferência poderá ser causada tanto pela estação transmissora de LTE (node B) quanto pelo terminal móvel do usuário. A interferência no universo da TV digital significa tela preta. Vemos também que a população não está bem informada sobre a necessidade de compra de receptores (set top boxes) ou de TVs aptas a receber o sinal digital: muitas pessoas acham que para ter acesso a TV digital têm de contratar um serviço de TV por assinatura, o que não é verdade, pois o radiodifusor disponibiliza este sinal de forma aberta e gratuita.
Pontualmente, quais seriam os problemas apontados pelos radiodifusores em relação ao desligamento?
Trindade – Para que a TV analógica seja desligada, devemos garantir, no mínimo, a mesma área de cobertura do sinal analógico e termos a certeza de que a população não será prejudicada pela interferência do LTE, e o radiodifusor tem buscado prover essa cobertura realizando vultosos investimentos.
Os radiodifusores precisam saber quais cidades o governo pretende realizar o apagão analógico já em 2015, para que possam direcionar seus investimentos para prover cobertura do sinal de TV digital. Se o número de cidades for alto, a indústria nacional (produtora de transmissores de TV e de receptores) poderá não acompanhar o aumento de demanda e prejudicar o processo de digitalização do sinal de TV.
E como se encontra o processo de digitalização das emissoras de TV?
Trindade – A ABRATEL fez um levantamento em maio de 2013 e chegou aos seguintes números: das 521 estações geradoras analógicas, 391 geradoras foram consignadas, ou seja, 75% das geradoras tiveram a documentação analisada pelo Ministério das Comunicações e estão autorizadas a realizar a transmissão com o sinal digital. Das 5.915 estações retransmissoras primárias de TV, apenas 2.027 haviam sido consignadas, o que representa apenas 34%, assim distribuídas: 941 na Região Sudeste, 370 na Região Sul, 295 na Região Nordeste, 187 na Região Centro-Oeste e 234 na Região Norte.
Como anda a questão do replanejamento de canais?
Trindade – Já foram feitas reuniões de replanejamento dos canais de TV para a região Sudeste, Paraná, Santa Catarina e para o Eixo DF – Goiás. As reuniões são feitas pela Anatel com a consultoria da SET (Sociedade de Engenharia de Televisão) e visam realizar a redistribuição de canais digitais e atender à solicitação do governo de liberar a faixa equivalente aos canais 52 a 69 UHF, que será destinada a serviços de quarta geração. Segundo o próprio governo o ressarcimento da realocação de canais digitais que se encontravam nessa faixa será feita pelos vencedores do leilão. O governo pretende encerrar essa etapa de replanejamento até meados de novembro, um prazo considerado bastante curto pelos radiodifusores, mas viável.
Serão realizados novos testes de interferência?
Trindade – A ABRATEL tem participado ativamente das reuniões com a Anatel e com o setor de telecomunicações e estamos trabalhando para realizar testes de campo nas proximidades de Brasília (Cocalzinho/GO ou Corumbá de Goiás) no mês de dezembro de 2013 e em Santa Rita do Sapucaí, MG, no início de 2014. Também serão feitos testes de laboratório em uma faculdade de engenharia elétrica do interior de Minas Gerais.
A preocupação é que os testes sejam desvinculados a qualquer pressão política de realizar o leilão da faixa de 700 MHz o mais rápido possível. O Japão fez análise do cenário de interferência por mais de dois anos e gostaríamos que nossos testes primassem pelo rigor técnico e mensurasse o real impacto da interferência sobre a recepção de TV.
Até quando pode ser adiado o início das transmissões digitais?
Trindade – O desligamento deve ser adiado o tempo que for necessário para garantirmos que a população brasileira tenha cobertura do sinal digital de TV e que o problema de interferência seja solucionado, sem prejuízos para o telespectador.
Em relação a faixa dos 700 MHz, qual o maior problema nessa desocupação?
Trindade – Em localidades como São Paulo e Campinas não haverá como permitir o serviço de novas geradoras ou retransmissoras de TV, pois o espectro já está saturado. O desenvolvimento de tecnologias que necessitem de mais espectro deverá ser revisto. Por exemplo, no contexto atual, o UHDTV (Ultra High Definition, a evolução do HDTV) na transmissão não é viável para o Brasil, pois utiliza 12 MHz. Necessitaremos buscar novas soluções que garantam o uso eficiente do espectro disponível.
Quais as perspectivas de novas ofertas de produtos e serviços da TV digital?
Trindade – O foco atual do radiodifusor é a consolidação do HDTV, mas há várias vertentes que poderão ser exploradas, como o 3D e como a utilização do 4K ou 8K na produção de conteúdo, melhorando a qualidade da própria TV.
Por João Camilo
Ascom – Abratel
Foto: Agência Senado