Em entrevista concedida ao jornal Valor Econômico, publicado no último dia 20, a Abratel se posiciona à respeito da implantação da TV Digital no Brasil. Confira a matéria na íntegra.
Com a reformulação no cronograma de implantação da TV digital (TVD) no país – de 2015 a 2018 – e algum acordo sobre o uso da faixa de frequência de 700 MHz, hoje utilizada pelas empresas de radiodifusão e que passará ao serviço móvel pessoal (SMP), por ora, a digitalização da transmissão oferece muito pouco ao usuário em relação a todas as novidades que a TVD pode oferecer ao telespectador. A melhoria da qualidade de áudio e som é um fato, assim como já é possível assistir à TV em aparelhos móveis – celulares, notebooks, ipads. Mas a oferta de outros serviços ficou pelo meio do caminho, como a interatividade entre o serviço e o telespectador.
Ao utilizar transmissões digitais, as TVs locais também serão capazes de oferecer mais programação para o público do que permitem com um sinal analógico. Outra vantagem da TVD é a possibilidade de transmitir um programa em alta definição, ou quatro em definição padrão. Enquanto a TVD ainda não chegou à sua plenitude, há, ainda, uma pedra no caminho dos radiodifusores.
Hoje, a TV aberta ocupa a faixa de frequência de 700 MHz, que o governo pretende destinar ao SMP. Mas as radiodifusoras querem tempo para a migração para outras faixas de frequência. Não é para menos, diante de possíveis problemas. A Abratel (Associação Brasileira de Rádio e Televisão) acompanha com preocupação a antecipação do desligamento do sinal analógico, tal como anunciado pela Anatel, e “o cenário complexo de interferências do 4G na recepção do sinal de TV digital”, diz André Felipe Seixas Trindade, engenheiro de sistemas de comunicação da entidade. “Neste caso”, explica, “a interferência poderá ser causada tanto pela estação transmissora de LTE (node B) quanto pelo terminal móvel do usuário. A interferência na TV digital significa tela preta”.
De seu lado, os fabricantes asseguram que os televisores que vendem saem de fábrica prontos para a transmissão digital. De acordo com André Sakuma, gerente de produto (categoria TV) da Samsung, a digitalização das transmissões é um grande passo para que todos os brasileiros tenham serviços com imagens de alta definição. “Atualmente, a transmissão digital é feita com qualidade HD (1280×720), porém a Samsung lançou recentemente uma televisão de 85″ UHD (Ultra High Definition, 3840×2160), com qualidade quatro vezes superior à FHD (Full High Definition, 1920×1080). É a 85″ Timeless, maior TV do mercado brasileiro, e capaz de converter um sinal HD em UHD através da tecnologia proprietária de Upscaling”, informa Sakuma.
Além disso, todos os produtos fabricados pela empresa já possuem o receptor DTVi (com função interatividade), acrescenta. “Pensando no futuro das transmissões em UHD, os produtos Samsung com essa tecnologia são capazes de evoluir em software e hardware através do Evolution Kit”. Isso significa, acrescenta, que quando houver a padronização do sinal UHD no país, os produtos Samsung serão capazes de receber o sinal UHD das emissoras sem a necessidade de um receptor externo.
“Através do Evolution Kit, que será comercializado separadamente, o consumidor poderá atualizar o televisor com os futuros novos recursos”, afirma. Na Sony, diz Luciano Bottura, gerente de comunicação e marketing no Brasil, todos os modelos já são fabricados com receptor de sinal digital.
João Rezende, presidente da Anatel, considera que o stress entre radiodifusores e operadoras de telecomunicações em torno da banda de 700 MHz vai chegar a um bom termo “para que as duas indústrias possam conviver”. Ele considera legítima a preocupação dos radiodifusores, mas eles terão a garantia de que qualquer tipo de interferência das teles nos equipamentos das TVs serão custeados pelas operadoras de telecom. Possibilidade de interferência, aliás, que está sendo avaliada por todos os agentes: as teles recorreram ao CPqD; os radiodifusores ao Mackenzie; a Anatel vai contratar uma empresa para fazer o mesmo. “Em 3,5 mil localidades, não foram verificadas interferências. Em 400, será necessário o remanejamento de canais. Falta avaliar outras 1,2 mil”, diz Rezende. Ele assegura que não haverá leilão para a faixa de 700 MHz enquanto não for finalizado o replanejamento, que está previsto para novembro-dezembro.
Os radiodifusores precisam saber em quais cidades o governo pretende realizar o apagão analógico já em 2015, para que possam direcionar seus investimentos para prover cobertura do sinal de TV digital. Se o número de cidades for alto, a indústria nacional (produtora de transmissores de TV e de receptores) poderá não acompanhar o aumento de demanda e prejudicar o processo de digitalização do sinal de TV, observa Trindade.
Por Anamárcia Vainsencher
Valor Econômico